domingo, 22 de novembro de 2009

POEMA

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SOLIDÃO

Daqui, desse ângulo escondido de janela
avisto de longe,
calada, quase recatada, o movimento...
São homens, mulheres, crianças, seus cachorros,
estarão eles, felizes?

Volto pros meus pensamentos,
mas neles não consigo ficar...

Timidamente torno a olhá-los,
não me dizem nada...
Estão apressados, ou andam calmamente,
conversam, ou seguem calados...

Continuam só, a caminhar,
seus passos movimentando o ar,
empurrando o vento...

Mas é aquele casal a se beijar que me prende,
aqui,
à minha janela...
Duas pessoas normais, como outras quaisquer,
acometidos por uma síndrome passional,
se comem em olhares e gestos.
Paixão?

Tenho vontade de gritar que saiam,
estão a me incomodar sobremaneira,
me tornam muito,
ou talvez ainda um pouco mais que isso,
quase insuportavelmente,
inquieta...

Os sons vindos lá de fora, misturam-se
ao ruído da TV:
- mais uma garota morta.
- novidades de uma velha guerra...
antigas notícias, contadas de uma nova forma...

Tento me concentrar,
mas os passáros lá fora não cessam em cantar.
Estariam fazendo uma sinfonia ao casal apaixonado?
Ou será o canto proveniente das asas,
da sublime sensação de poder voar?

Ah! Gostaria eu também de voar...

Me aproximo da janela,
bem mais perto do que o habitual,
quase tão perto que posso sentir o cheiro do asfalto,
lá, bem lá embaixo,
ele parece me chamar...

Poderia eu voar,
ainda que por alguns poucos segundos?
Seriam esses segundos suficiente liberdade?

Mas e se o pássaro não estiver a cantar?
Talvez seja só o choro,
de um indefeso animal preso,
acuado,
em uma gaiola qualquer...

Afasto-me da janela,
a gola dessa blusa apertada está a me sufocar.

Me sento,
mas o meu velho sofá já não é mais confortável...
As cores que revestem essas paredes ao meu redor
já não agradam meus olhos cansados...

Se pelo menos eu pudesse ver o mar!
Seria eu tão ousada?
Capaz de nele, sem medo mergulhar?
Mas e se as ondas não forem capaz de me abraçar?

Recorrerei então a uma dessas pessoas,
qualquer pessoa,
que daqui, dessa velha janela vejo passar?

Em meio a esse transe de pensamentos,
assolada por uma intensa ansiedade,
preciso parar por um momento,
ou mais...

Seja quanto tempo for,
sei que preciso de tempo suficiente para me lembrar...

Como é que se pede um abraço?





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Um comentário:

  1. Minha querida Poetisa! Desnuda-me, teus textos, claros, concisos, cristalinos, clarividentes, como só ocorre ao ler-te. Um abraço, que envolva, como a cálida brisa de uma linda manhã, que escorra morna água, numa noite fria, proteja, acalente, acaricie, abrace, como beijo
    seja!
    Teu 0001, Del

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