sexta-feira, 27 de novembro de 2009

POESIA DE AMOR E PERDA


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O AMOR MORREU


A porta bateu...
forte, pesada, gritante em meus ouvidos doloridos;
som que ecoou no profundo da minh'alma,
desmanchou-me, fazendo-me desfalecer na certeza.

Certeza de sonhos perdidos...
O amor morreu!

Demorou,
mas pude enfim, letárgica, levantar-me...

De que adianta o coração bater,
se na verdade já não vive mais?
A cada bombear alimenta meu corpo,
que prostrado, padece pela falta tua...

Sim.
Eu continuo a respirar,
sigo a caminhar,
ainda posso escutar,
consigo até mesmo falar...

Para que? Por que? Para quem?
Importa?

Não tenho nada a dizer...

E o que diria?
Que da vida não desisti?
Que perdi o amor,
a chance de ser feliz,
mas ainda assim estou aqui,
de pé,
que resisti?

Devo maquiar meus sentimentos?
Por qual maldita razão?
É mesmo tão vital e importante,
ou será só conveniente e agradável, continuar a sorrir?

E se assim és,
então ensina-me!
Por favor, imploro-te, ajude-me a fazê-lo!

Como é que posso pisar descalça em brasas,
queimando meus femininos pés delicados,
e ainda assim,
ignóbil, abjeto, torpe, vil,
dissimuladamente, simplesmente sorrir?

Quem dera fosse a mim tão fácil...

Quisera esconder que meu peito rasgado chora,
que meu coração fora destruído pela mentira do amor...
Tão somente, sonhado...

E agora?
Como aprender a aceitar docilmente que o amor,
verbo por mim tantas vezes conjugado,
jamais será, em mim, concretizado?

Como posso estar impassível, agir comumente
se estou a sangrar,
debruçada em meu sofrimento que arde, fremente?
Se sinto, sei, estou irremediavelmente doente?

E de que servem afinal tantas lamentações?
Elas não me fazem mover, não me trazem de volta à razão...

Talvez seja só,
o momento certo de contar uma mentira qualquer,
impingir a mim mesma uma desculpa esfarrapada,
e fingir com aquela ironia quase hipócrita
um sorriso de contentamento,
dócil ou malicioso,
de canto ou escancarado...
Desde que seja, um sorriso.

Não é disso que as pessoas precisam?

Então hei de manter as lágrimas trancafiadas
nessa cela suja e escura (meu coração?)
para libertá-las tão somente à noite...

Noites frias ou quentes,
em que as demarrarei só,
sob o chuveiro que derruba sua água quente sobre minha pele dormente;
sentada sobre os meus calcanhares cansados;
ou em minha cama vazia...

Em meu momento,
aquela pequena fração de hora,
único periodo de tempo
em que as terei aqui,
comigo,
minha verdadeira companhia
minhas gotas de cristais,
essas que nunca me abandonam,
que não se esquecem de rolar por minha face pálida...

Nesse instante, na companhia delas,
eu posso ser eu,
só eu,
em absoluta verdade...



*****


Um comentário:

  1. Simplesmente o melhor texto seu que já li. Parabéns poetisa, este eu li com a alma e com o coração, me deixou perplexo.

    Beijos e que seu talento nunca cesse.

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